Número de licenças médicas por transtornos psicológicos cresce no Brasil e atinge recorde nos últimos 10 anos
A Bahia registrou o maior número de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão em todo o Nordeste em 2024. De acordo com dados do Ministério da Previdência, o Estado contabilizou 4.517 afastamentos por ansiedade e 3.313 por depressão ao longo do ano. As informações são do G1.
Os números refletem um problema crescente na saúde mental dos trabalhadores brasileiros. Em todo o país, foram registradas 472.328 licenças médicas devido a transtornos psicológicos, o maior índice desde 2014, representando um aumento de 68%. O cenário aponta para uma crise no bem-estar emocional da população economicamente ativa.
Transtornos mentais mais recorrentes na Bahia
Na Bahia, os afastamentos foram concedidos por diversas doenças psiquiátricas. Veja os principais números registrados no Estado:
CID | Doença | Nº de concessões |
F41 | Ansiedade | 4.517 |
F32 | Depressão | 3.313 |
F33 | Depressão recorrente | 1.701 |
F31 | Transtorno bipolar | 1.494 |
F20 | Esquizofrenia | 998 |
F43 | Reações ao “stress” grave e transtornos | 575 |
F19 | Vício em drogas | 436 |
F23 | Transtornos psicóticos | 377 |
F25 | Transtornos esquizoafetivos | 333 |
F10 | Alcoolismo | 321 |
Fonte: Ministério da Previdência Social
Transtornos como psicose (CID F29), transtorno de personalidade (F60) e vício em cocaína (F14), comuns em outros estados, não figuraram entre os mais frequentes na Bahia. Vale destacar que os números refletem as licenças concedidas, e não o número de indivíduos afetados — um mesmo trabalhador pode ter sido afastado mais de uma vez ao longo do ano.
Fatores que impulsionam crise de saúde mental no trabalho
De acordo com a psicóloga Daiane Bispo, a alta nos afastamentos está diretamente relacionada a diversos fatores ligados ao mercado de trabalho e à sociedade como um todo.
“Instabilidade econômica, precarização das relações de trabalho, aumento da carga horária, desigualdade social e a dificuldade de conciliar vida profissional e pessoal são determinantes para esse cenário. Esses aspectos reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à promoção da saúde mental”, avalia a especialista.
Outro dado importante é que as mulheres são as mais afetadas pelos transtornos psicológicos. A sobrecarga causada pela dupla ou tripla jornada de trabalho, aliada à desigualdade salarial e a pressões sociais, faz com que elas representem 64% dos trabalhadores afastados por doenças psiquiátricas no Brasil. Além disso, a idade média dessas profissionais é de 41 anos, e os períodos de afastamento duram, em média, três meses, com um benefício mensal em torno de R$ 1,9 mil.
Por outro lado, Daiane destaca que o aumento nos afastamentos do trabalho também indica um crescimento na busca por ajuda e tratamento. Para ela, esse cenário representa um progresso na maneira como a sociedade lida com questões de saúde mental.
Medidas governamentais para combater crise
Diante da escalada dos casos de afastamento por transtornos mentais, o governo federal atualizou a Norma Regulamentadora nº 1, que estabelece diretrizes para a saúde no ambiente de trabalho. A mudança transfere ao Ministério do Trabalho a responsabilidade pela fiscalização dos chamados “riscos psicossociais” dentro das empresas.
Na prática, isso significa que empregadores podem ser multados caso sejam identificadas práticas como:
- Metas excessivas e inalcançáveis
- Jornadas de trabalho exaustivas
- Assédio moral e psicológico
- Condições precárias no ambiente laboral
O objetivo da nova regulamentação é criar mecanismos que garantam um ambiente de trabalho mais saudável, reduzindo os impactos da sobrecarga emocional e prevenindo novas licenças médicas.
Fonte: Muita Informação
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